07/09/2010

O Mundo Pós Americano - Fareed Zakaria

O MUNDO PÓS-AMERICANO

fonte: Le monde

No livro “The Post-American World”, Fareed Zakaria nos convida a olhar em volta e perceber o quanto símbolos de poder outrora imediatamente identificados com os Estados Unidos hoje enchem os olhos de cidadãos no “resto” do globo: o maior prédio do mundo fica em Taipei e o próximo será erguido em Dubai; a maior empresa pública de comércio fica em Beijing; a maior refinaria do mundo está sendo construída na Índia, o maior avião de passageiros, na Europa; o maior fundo de investimentos do planeta fica em Abu Dhabi; a grande indústria cinematográfica é Bollywood, não Hollywood; a maior montanha-russa fica em Singapura; o maior cassino, em Macao; e, na lista dos dez maiores shopping centers do mundo, nenhum é norte-americano. Por fim, nos mais recentes rankings, apenas duas das pessoas mais ricas do mundo são norte-americanas. Como alguém que acaba se dando conta de um óbvio silencioso, Zakaria inverte algumas premissas da atualidade e sentencia: “enquanto nos perguntamos por que eles nos odeiam, eles seguem em frente, muito mais interessados em partes mais dinâmicas do globo. O mundo mudou do anti-americanismo para o pós-americanismo”. O mundo pós-americano de Zakaria é o mesmo mundo “não-polar” de Richard Haass, autor de artigo de capa na Foreign Affairs. Para ambos, o presente momento histórico não assiste ao declínio norte-americano, mas a ascensão do “resto” – sim, esse é o termo usado por Zakaria, “the rest”. Para o editor da Newsweek, “the rest” significa os grandes mercados emergentes conforme designado por Antoine van Agtamel no seu The Emerging Markets Century (Free Press, 2007). Tal mercado inclui Brasil, Argentina, Chile, Malásia, México, Taiwan, Índia e China. Já para Haass, o resto é isso e mais um punhado de “poderes” regionais, como Egito, Venezuela e Austrália, algumas organizações internacionais – Banco Mundial, FMI e Liga Árabe de Estados –, mais algumas cidades-poder, como São Paulo e Xangai, além de outras entidades como o Hezbolah, a Cruz Vermelha e o Greenpeace. Para Zakaria, no que diz respeito a aspectos político e militar, nós ainda vivemos em um mundo unipolar, mas em todos os outros – industrial, financeiro, social e cultural – a distribuição de poder está mudando e afastando-se da dominação norte-americana. Haass vai mais longe ao afirmar que a característica que define o século 21 é a não-polaridade, ou seja, o mundo dominado não por um (unipolaridade), dois (bipolaridade) ou vários Estados (multipolaridade), mas por diversos atores, estatais e não-estatais, exercendo vários tipos de poder.
Essa temática já havia sido abordada na edição de janeiro de 2008 da Foreign Affairs, com o artigo de John Ikenberry, “The rise of China and the future of

the West”, que serviu como uma espécie de abre-alas para a atual edição da revista. Ikenberry é categórico na sua definição do mundo do século 21: “O momento unipolar norte-americano irá acabar. Se a guerra que definirá o século 21 for entre os Estados Unidos e a China, então a China vencerá, mas se a guerra for entre a China e um sistema ocidental renovado, então o Ocidente triunfará”. E como se processaria essa renovação? De acordo com Ikenberry, a ordem ocidental do pós-Segunda Guerra é única. Qualquer ordem dominada por uma potência é baseada em um mix de coerção e consenso. Porém, a ordem liderada pelos Estados Unidos é diferente, pois é mais liberal do que imperial e, por isso mesmo, tão acessível, legítima e durável, o que faz com que seja difícil derrubá-la e fácil aderir a ela. Assim, os Estados Unidos devem reinvestir na ordem ocidental, reforçando as características que encorajam engajamento e integração. Contudo, diferentemente de outros autores do passado, como Robert Gilpin, que acreditavam que tal ordem deveria ser reerguida a partir do antigo tripé Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão, Ikenberry, Zakaria e Haass insistem na necessidade de os Estados Unidos empreenderem esforços redobrados no sentido de integrar os Estados em ascensão, mais precisamente os BRIC’s, em instituições globais chave. Para Ikenberry, os EUA não tem como impedir a ascensão chinesa, mas podem fazer com que o poder chinês seja exercido dentro das normas e instituições que os Estados Unidos e seus aliados construíram ao longo das últimas décadas. A posição global dos EUA talvez esteja enfraquecendo, mas o sistema internacional que eles lideram pode continuar sendo a ordem dominante do século 21. E esse sistema só irá continuar funcionando se os newcomers forem chamados a assumir a posição que dignamente lhes cabe no latifúndio do poder mundial ou na governança global. Para o leitor brasileiro, o que chama a atenção é a constante referência ao país como um pólo de poder internacional. Em setembro de 2006, a revista The Economist publicou uma reportagem especial, intitulada The new titans: a survey of the world economy, segundo a qual o G-6 já não era mais a locomotiva da economia mundial, pois os novos carros-chefe da economia global seriam os BRIC’s – Brasil, Rússia, Índia e China. “BRIC’s” é o acrônimo cunhado pelo grupo Goldman Sachs para designar os quatro principais países emergentes do globo. Com base em projeções demográficas, modelos de acumulação de capital e crescimento de produtividade, o grupo especulou que: 1) em menos de 40 anos, as economias BRIC’s seriam maiores do que o atual G-6 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália);
2) do atual G-6, apenas os Estados Unidos e o Japão estarão entre as seis maiores economias do mundo em 2050. Essas seguirão uma ordem: China, Estados Unidos, Índia, Japão, Brasil e Rússia.

A inclusão do Brasil na seleta lista dos “grandes emergentes” tem fundamento. Em um relatório apresentado pelo periódico Asian Perspective, em 2007, sob o título Brazil: to be or not to be a BRIC?, Paulo Sotero e Leslie Elliott Armijo apresentam algumas das potencialidades brasileiras: 1) o Brasil é um poder “ocidental”, cujo alinhamento com os valores ocidentais não gera dúvidas ou temores; 2) temos um perfil de liderança pelo exemplo e pelo respeito, já que não possuímos capacidade militar ofensiva relevante; 3) somos uma potência ambiental que possui enormes recursos naturais e grande possibilidade de desenvolvimento agrícola; 4) temos uma política externa universal e com influência nos fóruns internacionais – vide G-20; 5) não enfrentamos problemas religiosos e/ou de minorias étnicas e conflitos separatistas (como a Rússia / chechenos, China / Tibet e Xinjiang e Índia / Caxemira); e, por fim; 6) o regime democrático brasileiro está consolidado. Claro que também temos as nossas fraquezas – absurda concentração de renda, educação de péssima qualidade e força militar risível. De qualquer maneira, o Brasil foi agrupado juntamente com três potências asiáticas, nuclearizadas, cujo desenvolvimento econômico se processou sob inspiração comunista e que, mesmo após a abertura de suas economias para o mercado, o Estado continua tendo papel central na condução da vida econômica do país. Se o “B” dos BRIC’s foi artificialmente ali introduzido para negar o sucesso do modelo asiático de desenvolvimento econômico orientado pelo Estado e inserção política internacional autônoma, ou se nossas potencialidades são mesmo inquestionáveis em um mundo que precisa de alimentos, combustíveis alternativos, modelos de democracia e lideranças capazes de agir sem o respaldo de armas nucleares, só o tempo dirá. Por hora, cabe aos formuladores de política externa brasileira e àqueles que pensam as relações internacionais do Brasil atentar para a atual posição que nosso país ocupa no debate intelectual norte-americano sobre a nova ordem mundial e quais são, exatamente, as vantagens e desvantagens, obrigações e potencialidades, de nossa inclusão no seleto grupo dos BRIC’s.

The Rise of China and the Future of the West | Foreign Affairs

The Rise of China and the Future of the West | Foreign Affairs

The rise of China will undoubtedly be one of the great dramas of the twenty-first century. China's extraordinary economic growth and active diplomacy are already transforming East Asia, and future decades will see even greater increases in Chinese power and influence. But exactly how this drama will play out is an open question. Will China overthrow the existing order or become a part of it? And what, if anything, can the United States do to maintain its position as China rises?

Some observers believe that the American era is coming to an end, as the Western-oriented world order is replaced by one increasingly dominated by the East. The historian Niall Ferguson has written that the bloody twentieth century witnessed "the descent of the West" and "a reorientation of the world" toward the East. Realists go on to note that as China gets more powerful and the United States' position erodes, two things are likely to happen: China will try to use its growing influence to reshape the rules and institutions of the international system to better serve its interests, and other states in the system -- especially the declining hegemon -- will start to see China as a growing security threat. The result of these developments, they predict, will be tension, distrust, and conflict, the typical features of a power transition. In this view, the drama of China's rise will feature an increasingly powerful China and a declining United States locked in an epic battle over the rules and leadership of the international system. And as the world's largest country emerges not from within but outside the established post-World War II international order, it is a drama that will end with the grand ascendance of China and the onset of an Asian-centered world order

06/09/2010

Relaciones Internacionales

Opiniones Relaciones Internacionales
Esther Barbé

Idioma: CASTELLANO
Tema: Derecho Internacional

La sociedad internacional de nuestros días vive en un estado de incertidumbre y de conmoción. Las transformaciones en materia de seguridad (terrorismo, crimen transnacional, violación masiva de los Derechos Humanos) en la posguerra fría convergen con fenómenos propios de la globalización (nuevas tecnologías, cambio climático, desequilibrio económico) creándose lo que algunos autores han dado en llamar «nuevo tiempo mundial». Nuevo tiempo mundial que nos lleva a fijar nuestra atención en hechos (privatización de la guerra), en conceptos (gobernanza) o en objetivos (desarrollo sostenible) que constituyen desafíos apasionantes para el analista de las relaciones internacionales. Esta obra pretende poner al alcance del estudiante aproximaciones teóricas, conceptos de trabajo, datos básicos e instrumentos de análisis que le animen a seguir el fluir de la relaciones internacionales en esta agitada época. Estas páginas pretenden estimular a los estudiantes para que desarrollen una visión propia de la sociedad internacional. De ahí que el cuerpo central de la obra se vea complementado con una serie de textos, «estratégicamente» seleccionados, que inciten a «repensar» las relaciones internacionales: aportaciones teóricas de diverso signo, reflexiones políticas de destacados estadistas o propuestas de futuro para actores centrales en el marco internacional, como las Naciones Unidas. En suma, el conjunto de la obra ha sido concebido para ayudar al estudiante a desarrollar sus propias ideas. Todo ello habría de potenciar un bien cada día más escaso, pero no por ello menos necesario: el debate en las aulas.

01/01/2010

Guerra Fria - EUA e Rússia devem renovar acordo de redução de armas nucleares.

Guerra fria dividiu mundo em blocos durante quase 50 anos
EUA e Rússia devem renovar acordo de redução de armas nucleares.
Conflito entre potências levou às corridas armamentista e espacial.

Do G1, em São Paulo
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Principais protagonistas da Guerra Fria, período histórico de conflitos indiretos que dividiu o mundo entre 1945 e 1991, Rússia e Estados Unidos estão próximos de chegar a um acordo sobre uma nova estratégia de redução de armas nucleares.


O último acordo, chamado de Tratado Estratégico de Redução de Armas (Start, na sigla em inglês), firmado em 1991, expira seu prazo de validade neste sábado (5). A Casa Branca espera que um novo acordo seja negociado antes do dia 10, a tempo de ser anunciado antes que o presidente Barack Obama receba o prêmio Nobel da Paz.




O presidente da Rússia, Dimitri Medvedev, e seu colega dos EUA, Barack Obama, durante encontro em 10 de julho na cúpula do G8 na Itália. (Foto: AFP)
Um acordo nuclear reduziria o impacto negativo de Obama receber o prêmio logo após ter anunciado o envio de mais 30 mil homens à Guerra do Afeganistão.


Duas principais potências nucleares do mundo, EUA e Rússia (então parte da União da Repúblicas Socialistas Soviética - URSS) disputaram influência política, econômica e ideológica e polarizaram boa parte do mundo em dois grandes blocos capitalista e socialista no período compreendido entre o fim da Segunda Guerra, em 1945, e a dissolução da União Soviética, em 1991.


O conflito é chamado de “Guerra Fria” porque as duas potências não travaram uma guerra direta, mas iniciaram a corrida pela construção de um grande arsenal de armas nucleares. Os dois países também se envolveram indiretamente numa série de conflitos regionais, apoiando os seus aliados nas guerras da Coreia (1950-1953), do Vietnã (1962-1975) e do Afeganistão (1979-1989), entre outras.



Divisão

Ao final da Segunda Guerra, a Alemanha derrotada foi dividida em quatro áreas de ocupação pelas potências vencedoras. Três anos depois, Estados Unidos, Reino Unido e França resolveram criar um Estado único provisório e fazem uma reforma monetária a fim de controlar a inflação galopante da Alemanha Ocidental e aumentando o isolamento da União Soviética, que controlava a quarta região.



Em julho de 1947, os EUA anunciaram o Plano Marshal, que ofereceu ajuda econômica para reconstruir os países aliados da Europa. Em resposta, a URSS lançou o Comecon, para garantir auxílio mútuo entre os países socialistas em 1949.


No mesmo ano, os soviéticos explodiram sua primeira bomba, dando início à chamada “corrida nuclear”. EUA, Canadá e os princiais países da Europa capitalista criam a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar que visava proteger os países membros em caso de ataque do leste europeu.






Apoio a guerras

Nos anos 50, os Estados Unidos endureceram a perseguição aos ideais soviéticos com a criação, pelo senador John McCarthy, de um comitê de investigação de atividades comunistas. Todo aquele que apoiasse ou cometesse atos considerados comunistas ficava sujeito a prisão ou extradição.


A política de contenção às atividades comunistas também levou os EUA a apoiar duas guerras: a da Coreia, que resultou na criação de duas nações, uma capitalista no sul, e outra comunista no norte, e a do Vietnã, que também tem participação direta da URSS, e da qual os EUA saem derrotados. Os dois países também testaram suas primeiras bombas de hidrogênio, e a União Soviética reuniu seus aliados na Europa Oriental no Pacto de Varsóvia, em 1955, uma espécie de resposta à Otan.



Corrida espacial

O desenvolvimento tecnológico na produção de mísseis e foguetes também levou as duas potências a uma corrida espacial. Em 1957, a URSS lançou o Sputinik I e o Sputinik II, primeiro artefatos humanos a orbitarem a Terra. O segundo levou a bordo a cadela Laika. No ano seguinte, os EUA entrariam na disputa com o lançamento do Explorer I.


Em 12 de abril de 1961, o russo Yuri Gagarin deu uma volta completa ao redor do planeta, tornando-se o primeiro homem a entrar em órbita. A resposta americana viria em 1969, com a transmissão, ao vivo por redes de televisão, da chegada do primeiro homem à lua.



Muro de Berlim

Em terra, a disputa endureceu ainda mais com a construção, em 1961, do Muro de Berlim, que dividiu a fisicamente a cidade (e boa parte do mundo) em zonas de influência capitalista e comunista. Em 1962, a tensão entre as duas potências chegou à beira do conflito aberto quando os EUA descobriram a construção de bases militares soviéticas em Cuba.


O episódio conhecido como crise dos mísseis terminou com um acordo, mediado pelas Nações Unidas, em que a URSS se compreteu a retirar da ilha todas as suas armas e os Estados Unidos a acabar com o embargo à Cuba – medida que não foi cumprida até hoje.


A fim de tentar conter a corrida armamentista, Estados Unidos, União Soviética e Grã-Bretanha assinaram em 1963 um tratado de não-proliferação de armas nucleares. O jogo político começou a ganhar novos contornos em 1968 e 1969 com ideias de abertura política na Tchecoslováquia e na Alemanha.



Distenção

Em 1973, as duas potências concordaram em desacelerar a corrida armamentista. O acordo é selado simbolicamente com um encontro no espaço entre as aeronaves Apollo 18 e Soyouz 1, na primeira missão conjunta entre os dois países, em 1975.


Quatro anos mais tarde, no entanto, os ânimos voltaram a se exaltar com a invasão soviética ao Afeganistão. Na batalha contra a ocupação soviética, os EUA apoiam a resistência, que mais tarde dariam origem ao Talibã.



Perestroika e Glasnost

Mikhail Gorbachev chegou ao poder em 1985 pregando a necessidade de reformar a URSS. Ficaram conhecidas as duas principais medidas lançadas pelo líder soviético: a Perestroika, plano de reforma econômica que previa a diminuição do orçamento militar -e a conseqüente retirada do Afeganistão- e a Glasnost, reforma política que garante liberdade religiosa e transparência.


Gorbachev também se encontraria com o então presidente americano Ronald Regan, em 1986. Os dois assinariam, no ano seguinte, um tratado para eliminação de armas e desativação de grande parte das ogivas nucleares.



O ano de 1989 foi marcado por uma série de revoltas populares pedindo o fim do regime socialista, que se espalham por Polônia, Hungria, Tchecoslováquia, Bulgária, Romênia. O processo culmina com a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro, que para muitos marcou o fim da Guerra Fria.



Veja cobertura especial sobre os 20 anos da queda do Muro de Berlim


A dissolução da União Soviética no fim dos anos 80 e início dos 90, no entanto, tornou sem sentido o mundo polarizado. Embora, 13 anos depois, Estados Unidos e Rússia ainda continuem a negociar acordos para garantir a redução das armas nucleares dos dois países.