05/03/2007

EUA querem apoio do Brasil contra Chávez, diz Skidmore

EUA querem apoio do Brasil contra Chávez, diz Skidmore



Bruno Garcez
De Washington





Para historiador, EUA buscam apoio brasileiro contra Chávez
O historiador americano Thomas Skidmore acredita que a viagem do presidente George W. Bush ao Brasil, no próximo dia 8 de março, visa principalmente ''cultivar o apoio do Brasil contra Hugo Chávez''.
Em entrevista à BBC Brasil, Skidmore disse que em várias ocasiões o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se posicionado contra o líder venezuelano. Por isso, afirma, a viagem de Bush é ''um gesto de solidariedade para com o Brasil e um gesto contra a Venezuela''.

O historiador, tido como um dos mais respeitados brasilianistas dos Estados Unidos, autor de obras como Brasil: de Getúlio a Castelo Branco, 1930-1964 , Brasil: de Castelo a Tancredo, 1964-1985 e Uma História do Brasil, acredita que os Estados Unidos vêem a Venezuela, atualmente, como ''como algo muito sério, uma grande ameaça''.

Além disso, argumenta, o presidente da Venezuela está ''trabalhando muito bem com o dinheiro do petróleo na América Latina''. A visita de Bush seria uma forma de o governo americano fortalecer sua posição na região, passando um sinal de que "o Brasil está apoiando os Estados Unidos''.

Prestígio internacional

Segundo Skidmore, o Brasil lucra pouco com a viagem de Bush. ''Lula ganha um pouco de prestígio, porque no Brasil é sempre bom quando o país conta com uma imagem positiva nos Estados Unidos''.

Mas o historiador acredita que aquele que seria o principal objetivo de Lula não irá se concretizar. ''O que ele espera é uma melhora nas relações comerciais entre os dois países. Esse é o eterno problema do Brasil com os Estados Unidos. Mas isso não vai ocorrer. Nesse caso, é o Congresso americano que cria uma barreira.''

Parceria desigual
''O Brasil é um país bonzinho para os Estados Unidos e é um parceiro secundário.


Thomas Skidmore

Na opinião do historiador, a oitava viagem de Bush à América Latina serve ainda para que o presidente americano ''desvie a atenção'' da opinião pública americana dos problemas vividos pela atual administração, como a guerra no Iraque.

''Graças ao Iraque, Bush está praticamente sem opções. Uma viagem ao Brasil é uma forma agradável de desviar a atenção da opinião pública. E ele consegue fugir dos constantes encontros com a imprensa. Geopoliticamente, a viagem é favorável, mas acho que entre seus principais objetivos está o de afastar o Iraque da agenda.''

Skidmore diz sobre Bush que ''o sujeito está chegando ao final de um mandato desastroso. Então, é preciso algumas atrações secundárias''. Para o autor, o Brasil cumpre bem esse papel, porque ''é um país bonzinho para os Estados Unidos e é um parceiro secundário''.

Etanol

Para Skidmore, o tão propalado acordo a ser firmado entre os dois países na área dos bicombustíveis é ''algo glamouroso, mas é também mais um desvio de atenção''.

Nos Estados Unidos, defende o historiador, o etanol é bem visto porque contempla os produtores de milho, ''que estão ganhando muito dinheiro em isenções''.

Mas ele acredita que o Brasil não conseguirá firmar alguns de seus objetivos principais ao firmar uma parceria com os Estados Unidos no setor. ''Bush não irá reduzir tarifas (do etanol exportado pelo Brasil para os Estados Unidos). Ele não irá baixá-las de maneira alguma.''


Skidmore pede 'revolução da mentalidade' no Brasil

Bruno Garcez
De Washington





Para Thomas Skidmore, brasileiros estão perdendo seus ideais
O brasilianista Thomas Skidmore afirma que o Brasil precisa de "uma revolução na mentalidade geral" para reverter o déficit de desenvolvimento humano que existe hoje no país.
Para que isso aconteça, o historiador americano diz que é preciso que o Brasil faça investimentos em um programa de desenvolvimento nacional e deixe de negligenciar áreas como saúde, educação e tecnologia.

Skidmore falou à BBC Brasil como parte da série Brasil 2010, em que personalidades de diversas áreas elegem um aspecto que gostariam de ver diferente no país que será entregue pelo presidente que vencer as próximas eleições.

Leia a seguir alguns trechos da entrevista:

BBC Brasil - O que o senhor gostaria de ver diferente no Brasil em 2010?

Thomas Skidmore- Gostaria de ver uma valorização do ser humano. Mas para isso é necessário um programa nacional de desenvolvimento. O Brasil continua negligenciando educação, saúde, ciência e tecnologia. Enfatizar estas áreas é essencial. Existe um déficit muito elevado de desenvolvimento humano. O Brasil ainda não acordou para o que está acontecendo no mundo e o tempo está se esgotando. É preciso uma revolução na mentalidade geral.

BBC Brasil - Mas como se pode chegar a essa revolução?

Skidmore - É muito difícil. Mas é preciso que o país enfatize educação. Foi o que fez a Coréia do Sul. Eles investiram em educação com muita rapidez. E depois colheram os resultados.

BBC Brasil - Ainda dá para acreditar que o Brasil é o país do futuro?

Skidmore - (rindo) Esse é um fardo muito pesado para carregar. Mas não é só criando um monte de universidades que você vai tirar o Nordeste da situação em que a região se encontra hoje em dia. O Brasil precisa de um programa ofensivo. Precisa ir para o ataque. Mas no Brasil parece que as pessoas só gostam de ir para o ataque no futebol. Sou cético. Não creio que conseguirei ver meu sonho realizado. Estou desiludido. Os brasileiros gostam de pensar que são idealistas. Mas acho que estão perdendo seus ideais

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